Para que aplicar avaliações educacionais online ao invés de fazê-las no papel? Numa primeira camada de respostas a esta pergunta, tendemos a considerar as reduções de custos logísticos, seja com a economia decorrente da eliminação das impressões, seja na dramática redução do tempo para obtenção dos resultados. Os argumentos relacionados à eficiência são inicialmente válidos e são normalmente reforçados pela ideia de que avaliações online também são mais atrativas para as gerações dos nativos digitais.
No entanto, no encontro anual da NCME (National Council on Measurament in Education), em abril de 2018, tive a oportunidade de participar de uma discussão mais profunda sobre o tema, brilhantemente conduzidas pelas pesquisadoras Susan McNally e Ye Tong, da Pearson. O ponto de partida é a definição de itens tecnologicamente aprimorados, a qual pretendo construir aqui a partir da adaptação de alguns exemplos que foram apresentados pelas colegas.
Observe que o item 1 não representa exatamente algo feito com o uso de tecnologia que não poderia ser feito no papel. Essencialmente, trata-se de um item de múltipla escolha com 4 alternativas. O item 2, no entanto, admite uma flexibilidade maior de resoluções pelos alunos. A solução mais frequente talvez seja com numerador 2 e denominador 4, mas há também alunos que acertam escolhendo, respectivamente, 3 e 6.
Assim, os itens tecnologicamente aprimorados (ITA) são aqueles em que o uso da tecnologia traz recursos e possibilidades que dificilmente seriam reproduzíveis no papel.
Mais do que tecnologia por amor à tecnologia, nos ITAs torna-se possível avaliar processos cognitivos e pensamentos de ordem superior. Por exemplo, é possível elaborar itens que apresentam novos desafios no mesmo problema a cada resposta que o aluno fornece. Não estou aqui me referindo aos testes adaptativos, em que um item é escolhido como próximo no banco a partir da aproximação de seu resultado na escala dada pelas respostas aos itens anteriores. Mas sim de simular por meio da tecnologia múltiplas interações de um respondente na abordagem de um problema complexa que ele constrói em etapas.
E não é apenas para a Matemática que os ITAs podem ser valiosos. Nas Linguagens, é possível desenhar diferentes interações do respondente com um texto, tais como selecionar ou marcar trechos, completar lacunas, editar excertos etc. Também se pode construir textos a partir da ordenação ou relação entre excertos. Nas Ciências da Natureza, nas Ciências Sociais e nas áreas técnicas também são muitas as possibilidades.
Refletindo sobre um pró e um contra importantes no uso dos ITAs, creio que é muito favorável poder formular itens que permitem interações dos alunos mais próximas às suas práticas nos ambientes de aprendizagem.
No exemplo acima, o item 2 é mais próxima de como o aluno constrói o conhecimento relacionado a este assunto em aula e nas tarefas.
Uma desvantagem reside no custo e no tempo de desenvolvimento.
Se é desafiador elaborar itens nos formatos tradicionalmente usados no papel, será ainda mais demandante a construção dos ITAs, pois envolvem, sobretudo, um trabalho colaborativo intenso dos especialistas no conteúdo das áreas de conhecimentos, dos especialistas em avaliação e dos especialistas em tecnologia. O argumento das economias logísticas presente no primeiro parágrafo não necessariamente se invalida, mas vale a regra do volume de aplicação, um ITA valerá a pena se estiver sendo planejado para poder ser aplicado para muitos alunos, seja em avaliações ordinárias das escolas, formativas ou somativas, seja nas avaliações externas padronizadas.
Aline dos Reis Matheus
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha
