O que a personalidade tem a ver com o aparecimento de conflitos?

An innocent lawyer and an angry client blaming him.jpeg 

Existem evidências científicas que corroboram amplamente para a relevância das competências cognitivas, comportamentais, associadas a personalidade, para o sucesso acadêmico, profissional, social, familiar etc., no mundo atual.

Por exemplo, em uma pesquisa realizada por René Mõttus e colaboradores da Universidade de Tartu e Universidade de Edinburgh, no ano de 2012, publicada no European Journal of Personality, investigou a associação, a partir de estudos longitudinais, de habilidades cognitivas e traços de personalidade e notas escolares com comportamentos antissociais. Os estudos indicaram que estimular a competência colaboração também tem um papel importante em evitar que os jovens cometam crimes.

Tal pesquisa revelou que baixos níveis de colaboração encontram-se relacionados com a criminalidade entre jovens. Os pesquisadores ressaltam que a combinação de baixo nível de amabilidade e sociabilidade, baixo nível de habilidade intelectual e rebaixada capacidade de resiliência e organização pessoal se relacionaram com fracasso escolar o que, por sua vez, tem relação com a exibição de comportamentos antissociais, entre eles, comportamentos agressivos, de desrespeito às regras, de crueldade e indiferença ao sofrimento alheio, com propensão a cometer crimes.

Outro tópico de destaque refere-se a uma outra pesquisa, realizada por Carly Bruck e colaboradores da Universidade do Sul da Florida, publicada no Journal of Vocational Behavior, que investigou a relação entre a personalidade e o trabalho e a família. Os pesquisadores analisaram as relações entre traços de personalidade e conflitos entre o trabalho e a família, com um grupo de 164 empregados de diversas empresas, que apresentavam a condição de casados ou possuir ao menos um filho ou dependente morando na mesma residência. A maior parte dos participantes da pesquisa foram mulheres, com média de idade de 27 anos e carga horária de trabalho semanal média de 35 horas.

A respeito do que seria considerado conflito no trabalho, os pesquisadores indicaram três tipos de conflitos, baseados no tempo, na pressão e no comportamento. Conflitos com base no tempo são considerados aqueles que o tempo dedicado para um papel (família ou trabalho) impede a realização completa das responsabilidades do outro papel; os de pressão referindo-se àqueles que ocorrem quando as pressões geradas pelas atividades familiares ou trabalho impedem o bom desempenho da outra atividade e; por último, os conflitos de comportamento que seriam aqueles nos quais as pessoas demonstrariam dificuldade de compatibilizar os comportamentos de um papel com os padrões de comportamento da outra atividade.

A partir de regressões hierárquicas e análises correlacionais, observou-se relações dos fatores com os vários tipos de conflito, dos quais, traços de amabilidade e sociabilidade se correlacionaram inversamente com conflitos, indicando que pessoas com níveis mais elevados de amabilidade e sociabilidade tenderam a apresentar menor conflito entre o trabalho e a família.

Tal resultado da regressão sugeriu que níveis mais baixos de traços de amabilidade poderiam favorecer o aparecimento de conflitos com a família em função do tempo desprendido, pois as pessoas com essa característica tenderiam a ser menos propensos a ajudar os outros com trocas cooperativas entre os familiares, o que poderia favorecer o surgimento de conflitos, ou mesmo porque tenderiam a ser menos inclinados a procurar os outros em busca de apoio.

Em conclusão os pesquisadores sugeriram que níveis mais elevados de amabilidade e socialização poderiam estimular mais trocas cooperativas com o cônjuge e outros, podendo contribuir para a prevenção no surgimento de conflitos.

Ainda nesta pesquisa, as pessoas que apresentaram níveis mais elevados de organização, planejamento, resiliência, reportaram menor interferência da família sobre o trabalho, permitindo inferir que pessoas com níveis mais elevados de planejamento e organização tenderiam a prevenir conflitos por meio de seus comportamentos. Níveis mais elevados de instabilidade emocional e de afeto negativo também associaram-se com os vários tipos de conflito entre família e trabalho, evidenciando que as características de personalidade que envolvem a dificuldade de lidar com situações estressantes e de controlar os impulsos aumentariam a chance de ocorrer conflitos com a família e o trabalho.

 

 

ivan.png

 

 

 

Ivan Rabelo 
Especialista em Avaliação