Mapeamento das aprendizagens dos estudantes em 2020 - Parte 2

Parte 2 – Como descobrir o que os alunos aprenderam e o que não aprenderam, para poder planejar 2021?

Na Parte 1 desta série de posts, vimos que projeções e estudos acerca do impacto da suspensão das aulas presenciais têm apontado perdas na aprendizagem, além da ampliação das desigualdades educacionais, mesmo em cenários relativamente favoráveis de implementação do ensino remoto emergencial. Ainda que incipientes, esses estudos já sinalizam a necessidade de ações remediadoras. E, sobretudo para as ações que podem ter lugar em sala de aula, é importante não apenas mensurar a perda, mas analisar o que se perdeu (e até, eventualmente, o que se ganhou). Esse é o tema deste post, que aborda a questão: como descobrir o que os alunos aprenderam e o que não aprenderam, para poder planejar 2021?

 

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De forma direta e simples, a resposta é realizar avaliações diagnósticas. A execução dessa solução, entretanto, é bem mais complexa. Em primeiro lugar, tal como já abordado em outro post, é preciso superar os obstáculos decorrentes de uma cultura de avaliação quase que estritamente somativa presente nas escolas brasileiras. Vale destacar que, embora o MEC não tenha estabelecido uma normativa para as práticas avaliativas neste ano de pandemia, o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), de outubro de 2020, recomenda que as decisões sobre as práticas de avaliação somativa, que incidem sobre o binômio aprovação/reprovação, sejam analisadas a partir das particularidades de cada rede ou escola, em vista das diferentes condições e estratégias de implementação do ensino remoto:

 “Neste sentido, as avaliações e exames de conclusão do ano letivo de 2020 das escolas deverão levar em conta os conteúdos curriculares efetivamente oferecidos aos estudantes, considerando o contexto excepcional da pandemia, com o objetivo de evitar o aumento da reprovação e do abandono no ensino fundamental e médio.”

(CNE, 2020, p. 38)

Por outro lado, o documento reforça a importância das avaliações diagnósticas, que devem ser implementadas tendo em vista, sobretudo, a possibilidade de um continuum curricular 2020-2021 [..] para os alunos que não se encontram em final de ciclo” (CNE, 2020, p. 16).

Nesse sentido, nenhuma informação sobre a aprendizagem dos estudantes deve ser desprezada. O diagnóstico mais apurado será aquele mais informativo e, provavelmente, deverá contar com o cruzamento de dados coletados por diferentes procedimentos avaliativos. Independentemente do método, ou da forma como é implementada, a principal característica da avaliação diagnóstica está justamente em identificar com precisão uma determinada situação, de tal forma que sejam oferecidos elementos para que se atue da melhor maneira possível sobre ela. Assim, vamos nos dedicar brevemente a elencar diversas possibilidades de coleta de dados, com o auxílio da Figura 1:

 

Figura 1 – Possibilidades de procedimentos de coleta de dados para avaliação diagnóstica

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A primeira divisão estabelecida nesse esquema se dá entre a avaliação de sala de aula e avaliação externa. Cada uma tem potencialidades e limitações distintas, de modo que podem proporcionar olhares complementares sobre as aprendizagens desenvolvidas pelos estudantes.

A avaliação de sala de aula, por exemplo, tende a estar mais bem ajustada ao currículo praticado pelo professor, enquanto a avaliação externa se baseia em matrizes de referência pré-estabelecidas pelo agente avaliador externo. Nesse sentido, a avaliação de sala de aula pode trazer mais informação sobre o que os alunos aprenderam, considerando o que foi de fato ensinado, e a avaliação externa, por sua vez, partindo das expectativas sobre o que era pretendido, apresenta a verificação do que foi realmente alcançado. Ambas as informações podem ser cruciais para o planejamento de 2021 e idealmente devem se complementar para que o diagnóstico seja o mais abrangente e preciso possível.

Ao pensarmos em uma rede de escolas, pública ou privada, fazer um diagnóstico externo assume importância ainda maior, para que seja possível ter uma visão sistêmica, do conjunto das turmas, e direcionar o apoio necessário para o trabalho dos professores com os estudantes. Quanto ao instrumento, podem contar tanto com provas físicas como digitais

Com relação à avaliação de sala de aula, vamos distinguir duas práticas: aplicação de provas elaboradas pelos professores e avaliação processual, ou seja, aquela em que os dados são coletados por meio das próprias atividades de ensino e aprendizagem.

As provas elaboradas pelos professores têm a vantagem de serem procedimentos avaliativos que facilitam a organização dos dados e a documentação dos resultados. Por outro lado, as provas, para além de suas limitações usuais, neste momento particular, têm desvantagens relacionadas à aplicação: se presencial, há desafios organizacionais relativos à crise sanitária; se digital, envolvem desafios relacionados ao acesso e à cultura avaliativa, em que o monitoramento do comportamento dos respondentes é elemento importante para a validade do processo.

Já o grande desafio da avaliação processual é a organização dos dados e a documentação dos resultados. Os recursos digitais incorporados no ensino remoto têm potencial para facilitar esses processos, uma vez que que alguns dados podem ficar automaticamente registrados. Isso, entretanto, não dispensa ferramentas adicionais, tais como pautas de observação, rubricas, checklists e afins.

Por fim, considerando um quadro ideal – em que de fato há abundância de dados, oriundos de diferentes fontes – ainda resta o desafio de concatená-los, em uma lógica voltada à finalidade diagnóstica. Nesse sentido, é essencial cotejar os dados com os objetivos de aprendizagem que estavam previstos para 2020, considerando, inclusive, a “posição” desses objetivos na progressão curricular prevista pela instituição. Ainda, vale registrar o grau de confiança dos educadores nos procedimentos avaliativos utilizados, pois isso pode sinalizar a necessidade de aprofundamento da avaliação. O quadro a seguir ilustra essa lógica:

Figura 2 – Lógica de organização diagnóstica para dados provenientes de diferentes fontes de avaliação (exemplo)

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Como está a implementação e a prática de processos avaliativos para uso diagnóstico na sua escola? Como você se sente para realizar avaliações não presenciais?

Considerando que, para 2021, a expectativa da maior parte dos educadores é que o ensino presencial ainda seja implementado apenas parcialmente, é importante analisar mais detidamente as possibilidades e limitações dos procedimentos avaliativos realizados digitalmente. Na Parte 3 desta série de posts, esse será justamente nosso tema.

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Referências e bibliografia:

  • Conselho Nacional de Educação (CNE). Ministério da Educação. PARECER HOMOLOGADO PARCIALMENTE Cf. Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de 1º/6/2020, Seção 1, Pág. 32. Ver Parecer CNE/CP nº 9/2020.
  • HADJI, C. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
  • RUSSELL, Michael K.; AIRASIAN, Peter W. Avaliação em Sala de Aula: conceitos e aplicações. Trad. Marcelo de Abreu Almeida. Porto Alegre: AMGH Editora, 2014.

 

Por Aline dos Reis Matheus e Antonio Bresolin
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