Hora do intervalo! Mais um bate-papo informal na sala dos professores e uma das perguntas mais frequentes nas conversas entre eles é: “Por que meus alunos vão bem nas atividades em sala, mas não têm o mesmo desempenho nas avaliações?”
Ou quem nunca ouviu coisa do tipo: “Meus alunos sabem o conteúdo, mas não sabem interpretar o enunciado. A culpa é do professor de Língua Portuguesa.” Tsc... Tsc… Brincadeiras à parte, a questão na verdade é:
Na sua escola, há sintonia entre o que é ensinado e o que é avaliado?
Se a sua resposta é sim, por que ainda há distanciamento entre o desempenho de alguns alunos nas produções em sala e nas avaliações? Seria resultado do medo que muitas vezes perturba o aluno que está diante de uma prova? Ou o problema estaria no formato inadequado do enunciado que exige uma habilidade que ainda não foi desenvolvida? Ou mesmo um item problemático, que não traz uma situação-problema definida, dificultando a compreensão do estudante?
Ao tentarmos indicar um “culpado” - o livro didático, o professor de português, o próprio aluno ou o professor da série anterior - continuamos a desviar o olhar de algo que está sob nosso controle: a produção dos itens que comporão o instrumento de avaliação. É preciso entender que a causa é de todos nós, independente da área de atuação.
Mas como sair desse campo de visão limitado a priori? Já pensou em, ao elaborar questões, ter a compreensão do que é contexto e o que é pretexto, num instrumento de avaliação? E por que não explorar uma gama variada de gêneros textuais como contexto? Como escolher o contexto utilizado em uma questão e de que forma otimizar sua utilização? Conhecer os princípios que são os pilares para a produção de itens válidos pode ser um caminho (independente da disciplina que você leciona)!
Participar de oficinas de elaboração de itens com uma equipe profissional no assunto e utilizar esse repertório na produção de seu conteúdo para as aulas e avaliações, poderá trazer mais sintonia entre o ensinar e o avaliar. Um item válido tem o propósito de avaliar com mais precisão o que se pretende e, neste caso, fica possível indicar o processo cognitivo que esperamos que nosso aluno tenha desenvolvido (através da ação contida na habilidade escolhida), com a delimitação de um objeto de conhecimento (o que podemos chamar de conteúdo) em um dado contexto.
Pensando ainda que, a partir da classificação desses itens (por habilidade, por conteúdo, por nível, etc) podemos ter os valores de proficiência dos alunos em relação aos domínios apresentados, reforça-se a importância de ampliar nosso repertório sobre a validação de um item. E como essa classificação é possível? Em que essa informação impacta o (re)fazer pedagógico? Essa discussão é válida e importantíssima no contexto educacional.
*Um instrumento avaliativo não é o lugar de inovar em relação às práticas de sala de aula. Ou seja: essas preocupações que norteiam a produção de um item, devem permear as atividades de sala também."
Jeanne Alencar
Especialista em avaliação
Referências:
GUIMARÃES, Ana Maria de Mattos; SCHNACK, Cristiane Maria; BICALHO, Delaine Cafiero. Práticas de letramento: caminhos e olhares inovadores. Porto Alegre: Mediação, 2014.
