“Item de avaliação” é o mesmo que “questão”?

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O vocábulo “item” é um termo técnico do campo da Avaliação Educacional, que ganhou força em função da intensificação do uso de avaliações em larga escala nas últimas décadas. Como esse tipo de avaliação costuma valer-se de questões de múltipla escolha, o termo “item”, ficou identificado com esse tipo de questão. Cabe, entretanto, analisar tal nomenclatura, se quisermos ir além dessa identificação usual.

Em primeiro lugar, cabe observar que o termo “item” torna-se relevante no contexto da Teoria de Resposta ao Item, que abarca modelos conceituais e estatísticos para que se criem escalas para avaliações, permitindo que os resultados de uma avaliação sejam comparáveis entre populações e ao longo tempo. Dentro desses modelos, são analisadas as respostas dos estudantes àquilo que lhes é demandado pela avaliação. Cada item identifica-se com uma questão de múltipla escolha e avalia uma única habilidade pretendida para o estudante, dentro de um domínio particular – assim, delimita-se o significado do erro e do acerto para produzir inferências tão precisas quanto possível.

Entretanto, focalizando a resposta dos estudantes à avaliação, podemos estender o conceito de item para modelos diferentes de uma prova de múltipla escolha e para contextos diferentes do de uma avaliação em larga escala. Uma redação, por exemplo, muitas vezes é um instrumento de avaliação e, nesse caso, qual é a resposta do estudante? É a própria redação, que não pode ser fragmentada sem perda de sentido e propósito, ainda que exija do estudante diversas habilidades que compõem a competência de escrever. Assim, a redação pode ser vista como um único item de avaliação, que deverá se fazer acompanhar de critérios adequados para que seja possível avaliar as várias habilidades em jogo.

Outro exemplo: que tipo de item poderia avaliar a competência de comunicar-se oralmente em uma situação escolar? Ora, essa é uma competência complexa, composta por habilidades tais como: usar vocabulário adequado à situação, falar fluidamente, gesticular com desenvoltura, manter contato visual com o(s) interlocutor(es), dentre muitas outras.  É um caso similar ao da redação, porém, aqui, é impossível que o item seja escrito. O item mais adequado, nesse caso, possivelmente não se afastará muito de um teste de desempenho, que pode consistir em uma apresentação oral sobre um determinado tema, uma defesa de um determinado ponto de vista sobre um assunto polêmico, uma contação de história, um diálogo ou debate (em que a avaliação deixa de ser individual e passa a ser coletiva) etc, dependendo das especificidades da modalidade oral a ser avaliada.

Em outros casos, ainda, talvez se queira avaliar uma única habilidade, mas, ainda assim, a natureza dela não permite que o item se confunda com uma questão de múltipla escolha. Um professor ou treinador, por exemplo, pode querer avaliar a execução de um determinado passe em um jogo de voleibol. Nesse caso, também será provavelmente necessário um teste de desempenho.

Não deixa de ser curioso o fato de que o termo “item”, apesar de se originar das avaliações em larga escala - uma prática avaliativa quase sempre limitada, por sua própria natureza, a questões de múltipla escolha – acabe apontando, quando visto da forma exposta, para a necessária diversidade dos instrumentos de avaliação.

 

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Aline dos Reis Matheus 
Diretora Educacional da Academia Primeira Escolha

 

 

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