Por Tadeu da Ponte em Fevereiro de 2018
Para cada área de conhecimento, as Escolas já têm uma referência curricular e um macroprocesso de avaliação, que estabelecem, respectivamente, os conteúdos e habilidades que deverão compor os planejamentos de ensino dos professores e de que maneira as aprendizagens dos alunos serão verificadas. Ou seja, já está formalizado “que matéria deve ser dada”, “quando tem prova” e “o que cai na prova”.
É dessa forma que a instituição declara para sua comunidade suas intenções sobre o que os alunos deverão aprender e como serão avaliados.
No entanto, quando se fala do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, por ser uma prática recente e em sistematização no universo escolar, as intenções das Escolas não têm o mesmo grau de detalhamento. Os processos estão sendo estabelecidos, as matrizes curriculares referentes a tais habilidades estão sendo construídas, tudo ainda será testado, analisado e aprimorado. Emerge nesse contexto uma questão: é possível avaliar as habilidades socioemocionais na Escola? Não seria estranho fazer uma prova “cobrando” tais habilidades? Ora, é evidente que esse não é o caminho.
O senso comum mistura a ideia de avaliação com sua finalidade somativa. Culturalmente, isso é tão forte que mesmo educadores tendem a fazer essa simplificação. É justo e necessário que se façam sínteses somativas das aquisições dos conteúdos e habilidades das áreas de conhecimento, mas é importante que se dê espaço às finalidades formativas e diagnósticas para certas avaliações no universo escolar. Esse é o primeiro ponto a ser considerado para as avaliações de habilidades socioemocionais: fica mais fácil entender como podem ser construídas se abrirmos mão da ideia de que o aluno precisa receber uma nota e de que ele pode ser reprovado se ela for abaixo de 5. Para que avaliar então? Bem, no mínimo para que o aluno conheça melhor as habilidades socioemocionais que está desenvolvendo, bem como o seu nível de desenvolvimento em cada uma delas. Além disso, a Escola também precisa saber se está atingindo os objetivos que ela própria estabeleceu em relação a essas habilidades.
Contudo, apenas o entendimento de que a finalidade formativa estará adequada à avaliação das habilidades socioemocionais não responde à questão de como fazê-lo, pois a relação aula-prova, no que diz respeito às áreas de conhecimento, é conhecida e bem aceita por todos, além de intrinsecamente arraigada à cultura escolar. O que pode, então, fazer as vezes da prova no caso das habilidades socioemocionais? Essa pergunta não tem uma resposta única, muito menos definitiva, mas já podemos enxergar que as avaliações dessas habilidades devem ser coerentes com as práticas instrucionais que promoverão seu desenvolvimento.
Ou seja, deve-se pensar em dinâmicas avaliativas que acompanhem as situações em que os alunos adquirem tais habilidades, que teçam relações de significado das habilidades com as situações de aprendizagem nas tarefas instrucionais realizadas a todo momento.
Em termos de instrumentos, do mesmo jeito que até hoje se investiu na formação dos professores para construírem provas melhores, precisaremos desenvolver formações dedicadas à criação e ao uso de rubricas, que estabelecem critérios para observação e codificação de desempenho nas habilidades desejadas.
Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha