Como fazer da avaliação externa um processo interno?

Como fazer da avaliação externa um processo interno?

Há duas situações nas quais podemos fazer um exame de sangue. A primeira é aquela que decorre de alguma intercorrência médica de sintomas agudos: tivemos uma forte dor de cabeça, um desmaio, uma dor muito intensa em alguma parte do corpo etc. Isso acontece num pronto-socorro ou atendimento ambulatorial de emergência, que procuramos quando algo assim acontece conosco, para receber um tratamento imediato para o que nos está afligindo. A segunda é aquela que decorre de um tratamento de saúde preventivo, para o qual fazemos consultas periódicas com o nosso médico, anualmente na maioria das vezes, apresentamos os resultados dos exames e recebemos orientações ou até mesmo prescrições para manter nossa saúde no melhor que ela pode estar.

Realizar avaliações padronizadas em uma escola pode ser entendido de maneira análoga. Saiu o resultado do ENEM, a escola “piorou”, o concorrente “melhorou”, o principal jornal da cidade fez um ranking dando destaque a essa movimentação, até os pais da Educação Infantil estão questionando a direção... trata-se de uma intercorrência educacional de sintomas agudos. A escola vai atrás de avaliações e simulados do ENEM, principalmente para os alunos da 3ª série, para que possa mostrar à sua comunidade que está enfrentando o “problema”.

A questão é que, quando o aluno está na última série do Ensino Médio, 90% do seu resultado no ENEM já está definido.

Quando se faz avaliações padronizadas acompanhando o mesmo grupo de alunos desde as séries iniciais do ensino fundamental até o ensino médio, observa-se que:

  1. Sim, os alunos apresentam um salto de desempenho de aproximadamente 10% na 3ª série, mas principalmente porque aprendem a lidar melhor com a gestão do tempo em provas longas.
  2. Não, entupir os alunos de simulados na 3ª série não os faz desenvolver significativamente habilidades, esse é um processo que ocorreu intensamente em todas as séries anteriores.

É importante deixar claro que não estamos propondo aqui que se abandonem os simulados de avaliações para alunos da 3ª série do Ensino Médio, mas sim que o processo de avaliação externa seja realizado e sistematizado para os três segmentos (EFI, EFII e EM), para que a escola possa identificar lacunas de desenvolvimento de habilidades dos alunos nos momentos em que elas podem ser fechadas.

Trata-se de tornar a avaliação externa um processo interno, ou seja, tão bem articulado com currículo e planejamento das aulas que a escola consegue identificar e realizar ações preventivas para melhoria dos resultados.

Mas, assim como cuidar preventivamente da saúde, essa dinâmica exige da instituição organização e disciplina para:

  • Estabelecer seu currículo elencando claramente objetos de conhecimento e habilidades que os alunos precisam dominar em cada série. A BNCC já está estruturada desta maneira e sua implantação pode ser uma oportunidade de alinhamento curricular para muitas instituições.
  • Feita a avaliação externa, realizar uma análise de lacunas (gaps) das habilidades que os alunos menos desenvolveram em cada série.
  • Desenvolver protocolos para tratamento das lacunas (gaps) identificadas, que deve ser ferramenta de trabalho dominada por todos os professores, para organizarem suas ações a partir dos resultados das avaliações externas.

Este último ponto é o mais importante e o que realmente torna a avaliação externa um processo interno. Pois quando vamos para o hospital a partir de uma emergência, o médico sempre vai querer saber o que fizemos ou o que aconteceu conosco para estarmos naquele estado (foco no passado). Sem uma sistemática para definir ações a partir dos resultados das avaliações externas, os professores também ficam tentando entender o que foi (mal) feito para que determinados resultados fossem ruins. Do mesmo jeito que quem faz um acompanhamento de saúde preventivo está mais preocupado no que pode fazer adiante para ter uma saúde cada vez melhor, um protocolo para tratamento de lacunas ajuda professores e coordenadores a olhar para o que deve ser feito para que as habilidades dos alunos se desenvolvam melhor (foco no futuro).

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Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha

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