Por Ivan Rabelo em 25/01/2018 16:10:00
Encarar os desafios do século XXI exige que as pessoas dominem certos conhecimentos essenciais para o sucesso na vida, desde acadêmico, profissional e sobretudo pessoal, no qual a educação proporciona um grande potencial para o desenvolvimento dessa vasta gama de habilidades e competências. Os diferentes estudos e pesquisas em diversos países sugerem que são necessárias competências cognitivas e socioemocionais para o sucesso na escola, no futuro, na vida.
No entanto, apesar do reconhecimento dos aspectos socioemocionais também por pais e professores, pouco esforço é dedicado ao seu desenvolvimento intencional e à avaliação da efetividade das intervenções que se destinam a promovê-los.
Pesquisadores como James Heckman apontam que talentos cognitivos e socioemocionais são maleáveis ao longo da vida, mesmo que em determinadas faixas de idades e etapas da vida as habilidades se mostrem mais ou menos maleáveis, potencializando intervenções que poderiam vir a ser realizadas para a promoção destes atributos.
Outros pesquisadores também têm realizado diferentes estudos que destacam uma formação bastante precoce da inteligência e capacidade de raciocínio acontecendo nas primeiras fases da vida, ao passo que características socioemocionais se mostram ainda maleáveis depois da adolescência e mesmo na vida adulta.
Descobertas neste sentido reforçam a necessidade da formação educacional dentro da escola na vida das pessoas, ainda que elas apresentem déficits cognitivos, haja vista os fortes indícios de que a escola contribui muito para o desenvolvimento de atributos cognitivo e não-cognitivo das pessoas.
A pesquisa destaca que estudantes que obtiveram seu diploma de segundo grau, high school, por meio de um exame de equivalência, apresentavam distribuição de notas em um teste de inteligência (QI) de maneira semelhante a de alunos que estudaram no ensino regular, cursando os anos letivos dentro da escola.
Tal constatação contrapôs a ideia estabelecida de que as diferenças observadas em distribuições de salários entre os dois grupos relacionavam-se a um nítido favorecimento dos indivíduos que frequentaram o ensino regular dentro da escola, gerando questionamentos no entendimento que até então se acreditava de que a escolaridade era afetada pelos salários, entendendo que indivíduos que frequentam a escola por mais tempo teriam desenvolvido mais suas habilidades cognitivas e com isso se tornado mais produtivos.
As distribuições de algumas características socioemocionais dos sujeitos que obtiveram o diploma por meio do exame de proficiência (não cursaram a escola regularmente) se assemelhavam mais aos indivíduos que abandonaram a escola antes do término do segundo grau do que aqueles que se formaram, indicando que se formar poderia contribuiu para a produtividade dos indivíduos também por meio de aspectos não cognitivos.
Em conclusão: a pesquisa mostra que que atributos socioemocionais se mostravam muito importantes na determinação do nível de rendimentos do trabalho dos indivíduos assim como as características cognitivas.
Assim, independente de um consenso entre teorias e práticas a respeito das competências socioemocionais, diversas pesquisas acadêmicas corroboram para o sentido de que tão importante quanto estabelecer a relevância dos atributos socioemocionais nas vidas das pessoas, é essencial compreender como tais atributos são constituídos e em que medida é possível intervir sobre as trajetórias destas habilidades para que possam beneficiar a aprendizagem escolar e contribuir ao longo da vida das pessoas.
Afinal, a realidade é sempre permeada por uma máxima, considerada sobretudo quando tratamos de competências não cognitivas, qual seja, o ser humano é único, com suas singularidades, mas também é coletivo, vivendo em sociedade, elegendo grupos, valores, criando laços, se modificando a partir de suas experiências e interações com o ambiente.
Ivan Rabelo
Especialista em avaliação