Como entender nosso nível moral?

Em blogposts dedicados ao tema integridade e moral, ressaltamos que a essência daquilo que tratamos como moralidade reside mais no sentido de justiça do que, propriamente no respeito pelas normas sociais.

Afinal, a justiça é o princípio moral básico. Não lhe parece?

Como entender nosso nível moral?

A moral, portanto, pode ter mais relação com considerações de igualdade, de equidade, de contratos sociais e de reciprocidade nas relações humanas e menos com o cumprimento ou violação de normas sociais ou regras apenas, dentro do entendimento proposto pelo psicólogo norte-americano Lawrence Kolberg.

De acordo com essa teoria do desenvolvimento moral, o raciocínio moral desenvolve-se em três níveis que podem também ser compreendidos em seis subestágios, cada um mais adequado para responder a diferentes dilemas morais.

Agora pretendemos nos aprofundar um pouco mais. Aqui, vamos apresentar os níveis morais propostos pelo referido autor, distinguidos agora em subestágios de desenvolvimento moral.

Cada um destes subestágios é qualitativamente diferente do estágio que o precede, e representa um novo e mais compreensivo sistema de organização de julgamento, a partir da racionalização de dilemas morais. Os subestágios ocorrem numa sequência invariante e estão relacionados tanto com a idade de forma global e, mais especificamente, ao desenvolvimento cognitivo.

Moralidade pré-convencional

Estágio 1: Orientação pela obediência e punição
Este é o estágio em que todas as crianças começam o desenvolvimento moral (e alguns adultos permanecem). As regras são vistas como sendo fixas e absolutas. Obedecer às regras é importante porque significa evitar a punição.

Estágio 2: Orientação pelo interesse próprio
Neste estágio se é capaz de reconhecer que outras pessoas têm seus próprios objetivos e preferências e que muitas vezes há espaço para negociação. As decisões são tomadas com base no princípio de "o que o outro tem pode interessar a mim?". Por exemplo, uma criança mais velha poderia raciocinar: "se eu fizer o que mamãe ou papai quer que eu faça, eles vão me recompensar”.

Moralidade convencional

Estágio 3: Orientação pela conformidade social
O foco está em parecer ser como um “bom menino” (uma “boa garota”). A ênfase está em viver de acordo com as expectativas e normas sociais por causa de como elas afetam as relações do dia-a-dia.

Estágio 4: Orientação pelo direito e pela ordem
Neste estágio já se é capaz de considerar a sociedade como um todo ao fazer julgamentos. O foco está na manutenção da lei e da ordem seguindo as regras, cumprindo o dever e respeitando a autoridade.

Moralidade pós-convencional

Estágio 5: Orientação para contratos sociais
Nesta fase, as pessoas entendem que há diferentes opiniões sobre o que é certo e errado e que as leis são realmente apenas um contrato social com base na decisão da maioria e compromisso inevitável. As pessoas às vezes desobedecem às regras se elas acharem que as regras são inconsistentes com seus valores pessoais e também argumentam para que certas leis sejam mudadas se elas não estão mais "funcionando". Nossas democracias modernas baseiam-se no raciocínio deste estágio 5.

Estágio 6: Orientação pela ética universal
Poucas pessoas operam nesta fase o tempo todo. Baseia-se no raciocínio abstrato e na capacidade de colocar-se realmente “no lugar” de outras pessoas. Nesta fase, as pessoas têm uma consciência de princípios e seguirá princípios éticos universais, independentemente do que as leis e regras oficiais digam.

Tendo isso como base, podemos perceber que as pessoas que cometem pequenos deslizes normalmente não os fazem com intencionalidade, por acharem certo ou propositalmente querem fazer algo errado, mas muitas vezes por racionalizarem suas escolhas no contexto em que estão inseridas.

O foco, portanto, não está no quanto cada pessoa é honesta, mas em como ela é capaz de racionalizar suas próprias atitudes e encontrar motivos ou justificativas para agir de tal modo. Ao se atentar para o comportamento de integridade, as empresas, instituições e governo poderão direcionar adequadamente seus investimentos em recursos para minimizar perdas decorrentes das pequenas atitudes antiéticas.


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Ivan Rabelo
Especialista em avaliação