Folheando o livro “Construir as competências desde a escola”, de Philippe Perrenoud, eu me dou conta que já tem mais de vinte anos da publicação do original, que é de 1997. As questões que ele suscita, entretanto, a meu ver continuam muito atuais.
Logo na Introdução, há uma seção intitulada “Cabeças bem-cheias ou cabeças bem-feitas?”, em que o autor coloca ao menos duas questões interessantes.
Embora a escola, durante a maior parte de sua existência, tenha optado pela transmissão de conhecimentos, o autor ressalta que o equilíbrio entre essas duas tendências têm oscilado desde as últimas décadas do século passado, e mais, que os dilemas implicados na opção por uma delas não param de ser redescobertos. No contexto educacional brasileiro, por exemplo, o debate foi reacendido pela discussão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que está organizada em torno de competências e habilidades. Diferentes correntes da Educação elogiaram ou detrataram essa opção. Entre os detratores, estão, por exemplo, os defensores da Escola Unitária, movimento que tem como patrono o pensador italiano Antonio Gramsci (1891 – 1937).
Particularmente, com uma visão calcada na experiência de sala de aula, tendo a concordar com Nilson Machado (2010), quando coloca a “formação pessoal como a constituição de um amplo espectro de competências”. O que seria, por exemplo, saber Matemática? Na perspectiva da constituição de competências, saber Matemática implica um modo de agir, que mobiliza conteúdos, mas, principalmente, os integra e os articula em busca do enfrentamento eficaz de um problema – que pode ser prático, teórico, estético, intra ou extra disciplinar. Não se trata de defender um utilitarismo estreito, mas de buscar a superação de um conjunto de conhecimentos absolutamente desvinculado de qualquer ação no mundo.
A busca pelo ideal de complementaridade entre conhecimento profundo e aplicação desse conhecimento nos leva à segunda questão que merece ser examinada.Nas palavras de Perrenoud: “sendo impossível fazer tudo, no tempo e no espaço de uma escolaridade básica, o que fazer de mais útil?”
Se se opta pelo desenvolvimento de competências, é preciso observar a extensão do currículo. Desenvolver competências exige tempo, pois requer a estabilização de uma série de habilidades que precisam ser articuladas para o enfrentamento de um problema original. A estabilização dessas habilidades exige a vivência de um grande número de situações diferentes, porém semelhantes.
A BNCC buscar garantir o mínimo a que todos devem ter acesso em termos de aprendizagem na Educação Básica. Ao fazer isso, abre, efetivamente, em cada componente curricular, espaço para o desenvolvimento das competências que elenca? Esse pode ser um bom ponto de partida para estudar o documento, com vistas à sua implementação.
Referências:
MACHADO, Nilson J. Educação – competência e qualidade. São Paulo: Escrituras, 2010.
PERRENOUD, Philippe. Construir competências desde a escola. trad. Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
Aline dos Reis Matheus
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha