No dia 20 de março de 2018, uma equipe da Primeira Escolha compareceu a um encontro na Faculdade de Educação da USP, intitulado “Avaliação na/da educação infantil: debates e embates no cenário nacional”, organizado por diversas professoras, dentre elas a Profa. Sandra Zákia Sousa (FE-USP). Este post tem como propósito relatar alguns pontos do debate a que tivemos acesso.
Primeiramente, é importante destacar que a Educação Infantil, até algumas décadas atrás, não era regulada pelas políticas de educação, mas pelas políticas de assistência social e de saúde. A visão de que o que se faz nas creches e nas pré-escolas é de natureza educacional é recente e ainda há muitos resquícios de outras lógicas nesse segmento. Dessa forma, o encontro pautou-se na ideia de que os profissionais da Educação Infantil precisam assumir a discussão sobre Avaliação Educacional nesse segmento, em seus próprios termos, para que as especificidades de seu contexto de atuação não sejam atropeladas por outros vieses.
De acordo com o exposto pela Profa. Sandra Zákia, há, no cenário educacional brasileiro, duas vertentes principais acerca da Avaliação na e da Educação Infantil. De um lado, há os que defendem que a avaliação nesse segmento contemple exclusivamente indicadores relacionados às condições de oferta e a aspectos estruturais (como, por exemplo, a formação dos educadores). De outro lado, há aqueles que defendem que a avaliação da Educação Infantil leve em conta indicadores relacionados ao desenvolvimento das crianças, tal como ocorre comumente no Ensino Fundamental, e, principalmente, no Ensino Médio.
Para a Profa. Sandra Zákia, a perspectiva de avaliar – em larga escala, principalmente – o desenvolvimento de bebês e crianças pequenas – o público da Educação Infantil – comporta uma série de riscos aos direitos desses indivíduos. Ela ressaltou o risco de estigmatização, dado que avaliações desse tipo dificilmente seriam capazes de considerar, como legítimos, os diferentes ritmos de desenvolvimento das crianças, além de desconsiderarem uma série de condições desiguais que as afetam de modo crucial.
Por sua vez, a Profa. Maria Malta Campos (FCC), embora não tenha defendido que a Avaliação na Educação Infantil devesse contemplar o desenvolvimento das crianças, questionou se condições estruturais e de oferta favoráveis seriam suficientes para garantir os direitos das crianças. Para ela, não seriam, especialmente em face de pesquisas que revelam a importância das interações para o desenvolvimento infantil. Tais interações precisam se pautar por estimulação e suporte, simultaneamente.
Muitos outros elementos relevantes foram discutidos no encontro, por estas e outras professoras que estiveram expondo suas pesquisas e pontos de vista, numa interação muito rica. Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugerimos os trabalhos das professoras Sandra Zákia, Maria Luiza Rodrigues Flores, Cláudia Oliveira Pimenta e Bruna Ribeiro.
Para nós, ficou a necessidade de sempre se perguntar: na Educação Infantil e em qualquer outro segmento da Educação Básica, como a avaliação pode ser colocada a serviço da concretização dos direitos das crianças e dos jovens?
Aline dos Reis Matheus
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha