Por Tadeu da Ponte em Janeiro de 2018
O que significa estar alfabetizado? No Brasil, em termos jurídicos, já se considerou que uma pessoa está alfabetizada se é capaz de ler em voz alta um bilhete. Esse “teste” já foi utilizado até para atestar que determinados políticos cumpriam os requisitos básicos para assumir cargos legislativos.
Como avaliar então se uma criança está alfabetizada, considerando que é desejável que ela consiga muito mais do que ler um simples bilhete?
Na área de educação, felizmente, existem critérios mais profundos para qualificar o nível de alfabetização das nossas crianças. A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), realizada no novembro de 2016, cujos resultados foram divulgados em 25/10/2017, estabelece que uma criança que apenas lê palavras e identifica o assunto de um texto está no nível insuficiente em leitura.
É considerado suficiente quando a criança consegue depreender os sentidos do que lê em diferentes tipos de texto, infere relações de causa e consequência, compreende sentido figurado etc., ou seja, a criança realmente entende o que está lendo.
Os dados desta edição de 2016 mostram uma leve melhora em relação à edição de 2014, porém, observamos alguns dados relevantes:
- Continuamos com mais de 50% dos alunos nos níveis insuficientes;
- A proporção destes alunos é maior nas regiões Norte e Nordeste – superando os 70%;
- O mesmo padrão se observa em Matemática, onde continuamos com mais de 50% dos alunos nos níveis insuficientes. Os dados também mostram que a proporção de alunos nesses níveis é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, superando os 70%.
A ANA também contempla a Escrita, na qual se observam 20% a 30% de alunos no Insuficiente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, enquanto se encontram índices acima de 50% no Norte e Nordeste.
Ainda em 2017, o INEP prometeu liberar esses dados estratificados por municípios e, o mais importante, um boletim para cada Escola. Apenas dar uma nota para cada Escola não resolve o problema, mas, sem dúvida, os indicadores constituem um norte para educadores, gestores e famílias direcionarem esforços e cobrança de recursos, para que o Brasil possa atingir níveis socialmente mais inclusivos de aprendizagem das nossas crianças.
Em sua análise sobre os resultados da ANA publicada em http://bit.ly/2hyBiJG, Ernesto Farias do IEDE e Tadeu da Ponte do Insper/Primeira Escolha apresentam propostas para enfrentar o problema na educação pública.
Mas, e quanto às escolas privadas?
Bem, a aplicação da ANA não contempla as instituições particulares do Brasil. Além disso, nas escolas de nível socioeconômico alto e muito alto, a discussão sobre o tema já aborda uma diferenciação entre aquisição da tecnologia da leitura, da escrita e das operações matemáticas básicas, chamada neste contexto de alfabetização; e o uso dos textos e das estruturas da matemática em sociedade, o que se define como letramento.
Quando se analisam as descrições dos níveis indicados como suficientes na ANA, encontram-se termos voltados ao letramento, mas os itens de avaliação utilizados nas provas ainda são muito simples. Comparativamente, as avaliações externas privadas realizadas para as instituições particulares partem de expectativas de aprendizagem muito mais altas.
Um domínio da Língua Portuguesa que a ANA ainda não aborda, mas que já figura nas avaliações privadas e foi formalizado na BNCC para Educação Infantil e Séries Iniciais, é a Oralidade.
Entende-se aqui que os gêneros de comunicação oral, tais como debates, assembleias, diálogos argumentativos etc., também devem ser entendidos como textos usados em sociedade. Portanto, não há letramento completo sem o desenvolvimento da Oralidade.
Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha