Em geral, todos os educadores têm expectativa de que seus alunos desenvolvam habilidades complexas nas mais diversas áreas e disciplinas, tais como resolver problemas colaborativamente, argumentar e criticar argumentos, pesquisar de modo profundo e criterioso etc. Fazer com que essas expectativas transformem-se em realidade passa por alinhar planejamento, aula e avaliação.
Um objetivo pedagógico deve ser sempre passível de avaliação, sem o quê ele fica reduzido a uma intenção vaga. Acontece, entretanto, que a variedade e a complexidade das expectativas de aprendizagem demandam que a mesma variedade e complexidade sejam expressas nos instrumentos de avaliação. A prova escrita, especialmente a que envolve apenas itens de múltipla escolha ou de respostas curtas, costuma se prestar à avaliação de um rol limitado de habilidades, ficando as de maior complexidade de fora. Há que se ampliar, portanto, o leque de instrumentos de avaliação para além da prova escrita, caso o objetivo visado envolva maior complexidade: seminários, trabalhos em grupo, debates, produção de mídias diversas e uma infinidade de outras tarefas ou projetos podem ser utilizados como instrumentos de avaliação, para além de serem instrumentos de aprendizagem.
Essa diversificação dos instrumentos de avaliação, por si só, pode constituir um grande desafio, dependendo da cultura avaliativa da escola. Porém, mesmo quando tal desafio é superado, ainda há aspectos importantes sobre os quais refletir para garantir a efetividade dessas formas de avaliação. Muitas vezes, as habilidades complexas indicadas nos objetivos pedagógicos expressam-se mais no processo de execução de uma tarefa do que em seu produto. Especialmente nesses casos, limitações nas ferramentas de atribuição de notas, acabam por reduzir a avaliação aos aspectos mais evidentes do produto, ficando oculta justamente a avaliação das habilidades complexas que estavam em jogo no processo. Como avaliar tarefas complexas, considerando processo e produto, de forma objetiva, criteriosa e transparente?
Uma alternativa para lidar com a avaliação de habilidades de mais alta complexidade é associar rubricas de avaliação a esses instrumentos de avaliação diferenciados. Segundo STEVENS e LEVI (2005), uma rubrica de avaliação é uma ferramenta que indica, em uma escala, as expectativas específicas para uma determinada tarefa. Rubricas de avaliação são compostas basicamente por quatro componentes:
- Descrição detalhada da tarefa.
- As dimensões da tarefa, que se referem aos aspectos que serão avaliados.
- Uma escala que descreve diferentes níveis de desempenho.
- Descrição dos diferentes níveis de desempenho em cada uma das dimensões da tarefa.
Damos um exemplo de rubrica de avaliação que a Primeira Escolha construiu para um item específico da Avaliação de Oralidade dos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, que compõe um de nossos programas de Diagnóstico Padronizado (trata-se de uma versão simplificada, dada a finalidade didática deste artigo).
Claramente, a construção de uma rubrica de avaliação demanda tempo e esforço para sistematizar critérios e explicitar comportamentos possíveis em todos os níveis de desempenho. Esses ônus são compensados por muitas vantagens observadas na utilização de rubricas. A primeira, que constitui o argumento central deste texto, é que elas permitem a avaliação de habilidades complexas, contribuindo, portanto, para seu desenvolvimento entre os estudantes. Mas há outras vantagens:
- Embora seja gasto um tempo significativo em sua construção, uma rubrica representa ganho de tempo no momento da atribuição de notas, uma vez que a cada dimensão e nível de desempenho podem ser previamente associados pontuações e pesos.
- A utilização de rubricas tende a melhorar o desempenho dos alunos, uma vez que permite que o professor explicite de modo claro e oportuno, aos alunos, o que se espera deles. Com isso, os estudantes podem direcionar seus esforços de modo muito mais eficaz.
- A rubrica prepara o caminho para um feedback ágil e de fácil compreensão, especialmente se foi discutida com os alunos antes da realização da tarefa. A agilidade e a clareza do feedback é comprovadamente um dos fatores que permite aos alunos a superação de suas dificuldades.
- A construção de rubricas desenvolve diversas habilidades por parte dos docentes. Estimula a reflexão a respeito da relação entre os objetivos pedagógicos e as tarefas propostas; torna o trabalho de avaliar mais objetivo; estimula a comunicação dos critérios e o feedback aos alunos, fazendo crescer a consciência de sua importância; gera maior clareza a respeito das dificuldades e do potencial de cada estudante etc.
Se queremos atingir objetivos diferentes, é preciso investir tempo e energia para atuar de forma diferente. Esse caminho fica facilitado pelo uso de ferramentas já testadas e esmiuçadas por outros educadores. Esse é o caso das rubricas.
Aline dos Reis Matheus
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha
Referências:
STEVENS, D.D.; LEVI, A.J. Introductions to rubrics: na assestment tool to save grading time, convey effective feedback and promote student learning. Virginia: Stylus, 2005.