O que é competência e como contextualizar os itens de avaliação?

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Os itens do ENEM buscam operacionalizar, no âmbito das avaliações em larga escala, um tema muito relevante em Educação: a contextualização. Embora seja uma ideia muito importante e já bastante debatida, a contextualização – seja do ensino, seja da avaliação – ainda é objeto de equívocos, dúvidas e alguma desconfiança.  

As provas do ENEM já sofreram duras críticas por trazerem contextos demasiado artificiais para seus itens ou por reduzir as exigências à interpretação de texto ao trazer itens contextualizados. Com os anos, essas críticas ajudaram a aperfeiçoar a prova que, entretanto, ainda peca nesse quesito vez ou outra. Mas cabe a pergunta: por que correr o risco de cometer equívocos desse tipo, expondo-se a críticas que tanto desgastam a imagem dessa avaliação? O que há de tão importante na contextualização que faz com que o ENEM insista nisso?  

A ideia de contextualização está associada de modo bastante estreito a outras três ideias que se destacam no campo da Educação atualmente: a noção de conhecimento significativo, a concepção de que o conhecimento é construído em rede e o entendimento de que o objetivo maior da escolarização é que os alunos desenvolvam um amplo espectro de competências. Neste pequeno texto, vamos nos deter um pouco mais nessa última ideia.  

Segundo Perrenoud (1999, p.7), uma competência consiste em “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”. Para tal, é preciso “colocar em ação e em sinergia vários recursos cognitivos complementares, dentre os quais estão os conhecimentos”. Ou seja, a ideia de competência inclui a ideia de conhecimento – entendido como representações da realidade –, mas não se limita a ele. Antes, seu cerne está na capacidade de mobilizar o conhecimento para resolver problemas em âmbitos determinados. Ainda, segundo o mesmo autor, uma competência não se confunde com um conhecimento procedimental que se interioriza por meio de treinamento. Mais que isso, uma competência expressa-se quando se age com discernimento frente a uma situação inédita.  

Dessa forma, a contextualização se coloca como uma ferramenta a serviço da avaliação de competências e, portanto, de habilidades, que as expressam e compõem. Em um item avaliativo, um contexto é um conjunto de circunstâncias dentro do qual uma situação-problema proposta adquire significado.   

Um item bem contextualizado não tem necessariamente a ver com o cotidiano, como acreditam alguns. O contexto pode ser até intradisciplinar (isto é, interno à própria disciplina ou área sobre a qual versa a avaliação), desde que “transporte” o respondente para uma situação-problema inédita o suficiente para requerer que a mobilização de seus conhecimentos se dê por meio de significativos ajustes em esquemas de ação previamente aprendidos. Por outro lado, a utilização de contextos extra disciplinares é muito bem vinda de um ponto de vista educativo mais amplo. Afinal, conectar uma disciplina aos mais diversos contextos a engrandece, valorizando-a como uma ferramenta para ler o mundo e nele intervir, ao mesmo tempo que aumenta o espectro de competências pretendidos para os alunos. 

Enfim, se se assume que o objetivo maior da escolarização é o desenvolvimento de competências, então os itens contextualizados se tornam essenciais à avaliação. 

 

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Aline dos Reis Matheus

Diretora Educacional da Academia Primeira Escolha

 

 

Referências:
PERRENOUD, P. Construir competências desde a escola. Trad.: Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 

 

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