A tecnologia disponível em 2019 já permite muitas possibilidades interessantes para as avaliações educacionais no Brasil, destacando-se, a seguir, algumas delas:
- Uso de itens tecnologicamente enriquecidos – questões que possibilitam interações entre o respondente e o dispositivo em que ele responde, tais como arrastar, preencher, selecionar, associar etc. Esses itens são compatíveis com a lógica de codificação ou correção automática de resposta, assim como os de múltipla escolha, mas permitem a avaliação de um espectro mais amplo de processos cognitivos e habilidades.
- Codificação automatizada de textos, na qual algoritmos de leitura de textos, mais recentemente munidos de inteligência artificial, não apenas atribuem pontos para os diferentes critérios de escrita que possam ser avaliados, como também para a elaboração de uma devolutiva, com os aspectos a serem corrigidos, para os alunos. Há, nos Estados Unidos, sistemas deste tipo que já superaram a correção por humanos em termos de índices de consistência entre textos e precisão dos resultados.
- Testes Computadorizados Adaptativos (CAT, na sigla em inglês), nos quais cada resposta dada pelo aluno determina a próxima questão a ser apresentada a ele, sempre com o objetivo de que ele resolva os itens com nível de dificuldade muito próximos ao seu nível de proficiência, de modo que sua proficiência possa ser determinada com uma quantidade muito menor de questões do que nas provas estáticas tradicionais. Ou seja, a partir de um banco com milhares de questões, um algoritmo monta uma prova personalizada para o aluno enquanto ele responde, de maneira adaptativa.
Há, no entanto, certas barreiras para o uso dessas tecnologias, para além do conservadorismo, que, eventualmente, pode ser atributo de um ou outro educador. Uma delas talvez seja um receio de, ao inovar, desfavorecer o aluno da Educação Básica em sua preparação para os Vestibulares e para o ENEM.
Ao propor uma versão digital do ENEM, o INEP e o MEC não apenas estão promovendo uma inovação no Exame Nacional, mas também estão influenciando potencialmente a quebra de barreiras para um uso maior de tecnologia nas avaliações educacionais. Por cinco anos, período em que o novo modelo será testado, a prova no computador será exatamente igual à prova no papel, para se manter a comparabilidade dos resultados. A redação, no entanto, já representa um desafio importante de adaptação dos alunos. Se os planos do INEP/MEC se concretizarem, os alunos que cursam o 7º ano em 2019 já farão redação por computador quando chegarem no ENEM. E escrever no papel é diferente de escrever no computador.
A partir de 2025, com o ENEM 100% digital, abrem-se duas grandes oportunidades para o Exame Nacional e para os alunos brasileiros:
- Maior viabilidade de múltiplas datas de aplicação do ENEM ao longo do ano, evitando que um único dia seja tão decisivo na vida dos estudantes.
- Uso da tecnologia para avaliar melhor com menos itens e menos tempo de prova, conforme ilustrados nos exemplos do início deste texto.
Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha