Meu colega Tadeu da Ponte, competente especialista em Avaliação Educacional, repete frequentemente uma frase que escolho para iniciar esse post: a avaliação é indutora de atitudes.
Para muitos, é a avaliação que faz com que o aluno estude – e, em muitos casos, é realmente assim que acontece… Diversas análises mostram como avaliações externas podem induzir a uma redução do currículo praticado nas escolas… Exemplos como esses fazem com que a veracidade da frase “a avaliação é indutora de atitudes” pareça um mal a ser superado. Afinal, os dois casos, em diferentes escalas, refletem uma inversão: a aprendizagem e a formação pretendida ficam subordinadas à avaliação, quando deveria ser o contrário.
Essa lógica invertida – representada de maneira sagaz no vídeo a seguir – prioriza o desempenho em detrimento da aprendizagem, gerando efeitos bastante perniciosos.
Segundo Black et al (2004), os estudantes vão investir seus esforços em uma tarefa apenas se eles acreditarem que podem alcançar algum sucesso. Se as tarefas escolares são vistas como competições, a mensagem é que sempre haverá ganhadores e perdedores e, assim, os alunos com “histórico de perdedores” não verão muito sentido em seu engajamento. O foco no desempenho tende a motivar apenas aqueles com histórico de sucesso. Para que a avaliação motive mais alunos, é necessário cuidar para que as devolutivas das avaliações sejam formativas: ajudas efetivas para aprender.
Ainda segundo Black et al (2004), devolutivas na forma de notas induzem os alunos a compararem uns aos outros. Já devolutivas em forma de comentários tendem a gerar maior envolvimento com a tarefa em si. Pesquisas comparando esses dois tipos de devolutiva indicam que devolutivas na forma de comentários geram melhor desempenho posterior que devolutivas em forma de nota, como consequência de uma aprendizagem mais efetiva.
A nota funciona como uma recompensa, gerando mais frequentemente motivação extrínseca. De acordo com Boaler (2016, p. 124),
“Quando os alunos recebem uma porcentagem de acertos ou nota, eles pouco podem fazer além de compará-la com as dos outros à sua volta, e a metade ou mais acaba decidindo que eles não são tão bons quanto os outros. Isso é conhecido como ‘feedback do ego’, uma forma de devolutiva que prejudica a aprendizagem. Infelizmente, quando os alunos recebem pontuações e notas em testes frequentes, eles começam a ver a si próprios como tais pontos e notas.”
Não se trata de abolir as notas, uma vez que elas cumprem um papel importante de síntese, que serve para certificar a aprendizagem dos alunos perante a sociedade. Mas se trata de questionar a nota como o meio mais frequente de devolutiva de avaliações; às vezes, o único.
Devolutivas qualitativas que focalizam aquilo que precisa ser feito tendem a encorajar os alunos, gerando motivação intrínseca. E não é a toa que a literatura sobre aprendizagens metacognitivas destaca, entre os atributos da motivação para a aprendizagem, a valorização intrínseca das tarefas. Mesmo alunos com alto desempenho podem sofrer consequências negativas importantes se sua motivação para a aprendizagem não comporta a valorização intrínseca das tarefas, mas é alimentada exclusivamente pelo “feedback do ego”. Nesses casos, o impacto de um eventual mau desempenho pode ser demasiado desestruturante.Retomando a frase do início deste post, se a “avaliação é indutora de atitudes”, cabe perguntar: que tipo de avaliação queremos, para gerar que tipo de atitude frente ao conhecimento e à aprendizagem?
Aline dos Reis Matheus
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha