Parte 1: sobre a necessidade
Aprender sistematicamente na escola é como manter uma dieta saudável ou fazer exercícios regularmente: exige certos conhecimentos e habilidades, mas também demanda disciplina em comportamentos produtivos. Para uma dieta saudável, é necessário conhecer os alimentos e a lógica de sua decomposição nutricional, ter habilidades de escolhê-los ou prepará-los adequadamente. Mas, fundamentalmente, é preciso escolher fazê-la rigorosamente em cada dia, sem adiar e com comprometimento.
O desenvolvimento das habilidades metacognitivas dá conta de saber-se aprender, mas ainda não efetivamente de adquirir aprendizado.
Também não basta ter objetivos claros e audaciosos, como tirar nota 10 (ou emagrecer 10 kg), para que eles sejam concretizados.
Quais são as habilidades metacognitivas e como avaliá-las são assuntos que já foram abordados num outro texto no nosso blog. Vamos abordar aqui como a avaliação de tais habilidades com feedback aos alunos pode ser uma ferramenta a serviço do professor, não apenas para desenvolvê-las nos seus alunos, mas também para estimulá-los a colocá-las em prática.
Nesse sentido, as questões que se colocam para serem discutidas são:
A abordagem da 1ª questão requer dois esclarecimentos técnicos de abrangência, pois há mais tarefas instrucionais que o aluno realiza do que aquilo que entendemos quando falamos em “estudar” – normalmente relacionado ao ato de se preparar para uma avaliação – e tratamos aqui de todas elas, em sala de aula, em outros espaços de aprendizagem na escola ou em casa. Além disso, o termo aluno usado no coletivo não é um só. Há alguns alunos, poucos na proporção geral, que possuem habilidades metacognitivas muito bem desenvolvidas e as praticam regularmente, o que pode ser observado em comportamentos como, por exemplo:
Há, no entanto, uma extensa maioria dos alunos que estuda por meio da simples leitura (repetidas vezes) das anotações de aula (próprias ou conseguidas no grupo do WhatsApp da sala) e do livro ou apostila, apenas nos momentos que antecedem as avaliações. Isso ocorre na educação básica e superior e não é um privilégio do Brasil.
Este comportamento reflete talvez uma concepção desses alunos de que estudar significa memorizar o que se supõe que ser “cobrado” na prova.
Evidentemente, tais práticas dificilmente conduzem o aluno a um entendimento profundo da matéria, menos ainda à retenção do conhecimento por prazos mais longos.
Nessa mesma maioria se observam com frequência dois comportamentos contraproducentes mais gerais: a procrastinação e o desengajamento; que constituem importantes barreiras para a prática das habilidades metacognitivas.
A constatação de tais comportamentos nos leva à 2ª questão, sobre quando é que ensinamos o aluno a estudar. E a resposta mais generalizadora a essa questão é muito simples: nunca, pois não ensinamos. Há exceções, é claro, mas normalmente, usamos a avaliação como instrumento para cutucar o aluno a estudar para a prova. E quando os resultados não são satisfatórios, dizemos para o aluno e sobre o aluno que ele não estudou.
Será que alguém já passou pela situação de escutar de um aluno (olhando bem para a sinceridade nos olhos dele), que estudou sim, mas não adiantou muita coisa?
Pois é, temos aí uma necessidade, nos posts 2 e 3 deste conjunto trataremos, respectivamente, da avaliação e do feedback sobre habilidades metacognitivas como práticas docentes que podem enfrentar de alguma forma este problema.
Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha