É óbvio que todo educador crê que aprendemos a aprender, mas a análise desta questão não é tão óbvia assim. Há muito a ser discutido, logo de início:
Vamos dar um passo atrás e colocar lógica nisso. Até o início dos anos 1990, os estudiosos da aprendizagem, de diferentes áreas, mas especialmente da psicologia, procuravam entender os tipos de inteligência ou estilos de aprendizagem. Ganhou repercussão, por exemplo, a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner que, na minha visão, não teve os efeitos mais positivos para a área de educação: “não se preocupe com suas dificuldades matemáticas, sua inteligência lógico-matemática deve ser baixa, mas deve ter um Pelé em algum lugar aí dentro de você”. É claro que isso não partiu do Professor Gardner, mas ideias como essa, independente de onde partiram, podem ter efeitos terríveis sobre o aluno que não está bem nas exatas. Isso ocorre por conta de um viés cognitivo chamado de efeito Pigmaleão, no qual uma pessoa torna verdade uma afirmação que acredita ser verdadeira.
Ou seja, se o aluno acredita que sua inteligência para matemática é baixa, então ele mesmo confirma a profecia, tendo cada vez mais dificuldade com esta área.
Os estilos de aprendizagem derivaram de aplicações das teorias de personalidade e comportamentais, como a tipologia MBTI proposta por Myers-Briggs, que classifica as pessoas em cada um de seus quatro fatores como, por exemplo, introversão-extroversão ou sensação-intuição. Assim, o estilo de aprendizagem de cada aluno deveria ser valorizado, o que requereria personalizar o ensino, por meio da adaptação do conteúdo e da instrução, ao estilo de cada um.
Em 1990, dois pesquisadores da Escola de Educação da Universidade de Michigan publicaram um artigo acadêmico intitulado “Componentes Autorregulatoriais e Motivacionais de Performance Acadêmica em Sala de Aula” (tradução nossa). Ao invés de tentar diferenciar os perfis de alunos, Paul R. Pintrich e Elisabeth V. De Groot procuraram identificar os fatores que levavam a bons resultados na Universidade, no comportamento de cada aluno, assumindo que cada fator poderia ser desenvolvido em cada estudante.
Partindo de modelos teóricos consolidados, Pitrich e De Groot criaram um instrumento avaliativo, o Motivated Strategies for Learning Questionnaire, que ficou conhecido pela sua abreviação MSLQ. O instrumento, que foi aplicado em sucessivos grupos de estudantes da Universidade de Michigan e refinado durante a década de 1980, consolidou-se em dois domínios: Motivação para Aprendizagem e Estratégias de Aprendizagem.
Compõem a Motivação para Aprendizagem os atributos: orientação a objetivos intrínsecos ou extrínsecos, valor atribuído à tarefa, controle de crenças sobre aprendizagem, autoeficácia para aprendizagem e desempenho e ansiedade em relação a avaliações.
Já as Estratégias para Aprendizagem são compostas por: reprodução, elaboração, organização, pensamento crítico, autorregulação, controle do tempo e do ambiente de aprendizagem, regulação do esforço, aprendizado de pares e procura de ajuda.
São habilidades que realizam e regulam os processos cognitivos dos alunos, portanto, podem ser entendidas no âmbito da educação nos dias atuais como habilidades metacognitivas. E, partindo do conceito que habilidades são desenvolvíveis, é possível concluir que sim, podemos aprender a aprender!
Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha