Parte 3: sobre o feedback da avaliação de habilidades metacognitivas

Parte 3: sobre o feedback da avaliação de habilidades metacognitivas 
Este texto dá continuidade à reflexão feita na parte 1 e na parte 2 sobre o desenvolvimento de habilidades metacognitivas a partir da sistematização de práticas avaliativas. Nesta 3ª parte, destacamos como o feedback (ou as devolutivas) pode(m):

  • combater comportamentos contraproducentes dos alunos (procrastinação e desengajamento);
  • gerar awareness nos alunos sobre tais habilidades, influenciando sua melhoria (para entender melhor este ponto, recomendo a leitura deste texto).

Como ponto de partida, façamos uma reflexão sobre a seguinte questão:

Como os professores fazem o acompanhamento das aprendizagens dos alunos na escola?

Façamos um esforço para pensar nessa questão sem a pretensão de nos convencer de que isso é bem feito. É evidente que há escolas e professores com diferentes práticas estabelecidas nessa direção, tais como o monitoramento da execução da tarefa, conversas periódicas dos alunos com a orientação educacional, atividades de correção de prova etc. No entanto, o modus operandi das escolas se baseia na aplicação de provas, que são situações em que o professor pergunta (por meio das questões que apresenta) e o aluno responde (por meio da resolução dessas questões). Pouco se faz nos momentos em que o aluno está de fato estudando e aprendendo e pouco fazemos para que ele reflita sobre o processo.

Esse afastamento dá lugar à procrastinação:

Por que o aluno irá cumprir atividades instrucionais que o levam a aprendizado profundo se a prova está longe?

Não adianta a gente achar que o aluno que pensa assim carece de motivação intrínseca e, portanto, não há o que fazer. Perto da prova ele estuda, ou seja, não faz antes porque não percebe o significado de fazê-lo. Se a escola ou o professor conversa mais frequentemente com ele sobre seu processo de aprendizado, basicamente praticando continuamente o feedback relacionado aos processos autorregulatórios e metacognitivos, a procrastinação tende a diminuir. O professor passa a acompanhar o aprendizado falando de aprendizado com o aluno.

O desengajamento também está relacionado à superficialidade predominante nos processos cognitivos executados pelo aluno que tem a visão de “estudar apenas para a prova”. No extremo, esse tipo de aluno não vê nenhum outro significado no que está aprendendo a não ser tirar um 5,0 na avaliação. É lógico que vai achar tudo chato (professor, escola, livro etc).

Por exemplo, consideremos o valor intrínseco atribuído à tarefa e a orientação a objetivos extrínsecos, que compõem a motivação para a aprendizagem, conforme modelo apresentado neste link. Apenas o fato de o professor explicar para o aluno essas duas habilidades e questioná-lo, por exemplo, sobre por que ele só estuda para a prova, já insere em seu pensamento a ideia de que é possível atribuir valor intrinsecamente a tarefas instrucionais. Ele pode começar a pensar em que situações ele vê valor no que está aprendendo.

A reação em cadeia provoca a diminuição do desengajamento, ou melhor, o aumento do engajamento dos alunos.

Parte 3: sobre o feedback da avaliação de habilidades metacognitivas 2


O
feedback ou a devolutiva para o aluno sobre dados coletados (formal ou informalmente) e analisados pelo professor sobre suas habilidades metacognitivas requer que tal avaliação esteja sendo feita, o que foi discutido na parte 2 dessa série de 3 textos.

Mas, como fazer um bom feedback para os alunos?

Nesse artigo, os pesquisadores David Nicol e Debra Macfarlane-Dick sintetizam sete princípios para boas práticas de feedback com os alunos (tradução minha):

  • Ajuda a deixar claro o que significa bom desempenho (objetivos, critérios, padrões desejados);
  • Facilita o desenvolvimento de auto avaliação (reflexão) sobre aprendizagem;
  • Entrega informação de alta qualidade para os alunos sobre o aprendizado deles;
  • Estimula o diálogo do aluno com o professor e com os colegas sobre aprendizado;
  • Estimula crenças motivacionais positivas e auto estima;
  • Fornece oportunidades para preencher as lacunas entre desempenho atual e desejado;
  • Devolve informações aos professores que podem ser utilizadas para aprimorar o ensino.


Em termos da realização do
feedback, ou seja, do momento em que se está em frente ao aluno, há algumas boas práticas e cuidados que podem ser adotadas:

  • Desenhe a devolutiva para ser individual ou coletiva, nunca faça individual para um aluno na frente dos outros. Fazer uma reflexão coletiva com a sala, estando cada aluno com seu resultado, por exemplo, pode ser um jeito de viabilizar o tempo escolar.
  • Prepare-se para a devolutiva, ou seja, saiba os pontos específicos a serem abordados.
  • Inicie a conversa com perguntas abertas, fazendo o aluno ou a turma pensar a respeito do que será discutido antes de falar dos resultados.
  • Apresente exemplos que ilustram boas e más expressões das habilidades avaliadas. Se for individual, podem ser exemplos de comportamentos do aluno, se for coletiva, pode-se até usar o comportamento de um aluno como exemplo, desde que isso não o identifique e não o exponha.
  • Feche a conversa perguntando sobre os próximos passos que o aluno ou a turma podem dar para melhorar os pontos que foram identificados como lacunas.
  • Solicite aos alunos que avaliem a experiência do feedback.

O colega que teve a generosidade de ler até aqui pode estar pensando: mas como vou fazer isso se não sobre tempo nem para “dar a matéria”?

Ao que lhe convido a refletir: qual o sentido de dar a matéria e o aluno pouco receber?


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Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha

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