Intencionalidade pedagógica: o “pulo do gato”

Nesta semana, conduzindo uma formação de professores a respeito da construção e da aplicação de rubricas de avaliação, falávamos das múltiplas possibilidades de uso dessa ferramenta. Uma delas, por exemplo, é na autoavaliação e na avaliação por pares. Nesse ponto, uma das professoras, de Matemática, relatou uma experiência proposta a uma turma de 8º ano, em que as produções dos alunos – respostas e soluções a um conjunto de questões – seriam avaliadas por colegas. Com brilho nos olhos, ela relatou percepções interessantes de alguns alunos a respeito da produção dos colegas: sobre a coerência entre resposta e raciocínio explicitado, sobre a causa de alguns erros etc. Foram percepções que geraram devolutivas muito formativas para os colegas que tiveram seus trabalhos avaliados.

Cute lovely school children at classroom having education activities

A avaliação por pares pode ser muito rica e poderíamos nos debruçar sobre esse tema – de fato, faremos isso em um outro post. Mas, aqui, gostaria de compartilhar outra reflexão, que tem a ver com o desafio de distinguir, no exercício da docência, aquilo que surge espontaneamente em sala de aula – e que eventualmente nos encanta – daquilo que perseguimos de forma metódica e instrumentada, visando à aprendizagem de todos os alunos.

Aprofundando um pouco a discussão com a professora citada, entendemos que as tais percepções interessantes sobre a produção dos colegas causaram grande impacto para a avaliação subjetiva que ela fez a respeito da experiência, mas foram pontuais: alguns alunos tiveram percepções interessantes e produziram devolutivas realmente formativas para os colegas. Outros, não. Muitos alunos não conseguiram produzir uma devolutiva relevante a partir do que observaram na produção dos colegas; outros, não souberam comunicar adequadamente o que observaram; outros, ainda, não tiveram a postura adequada com relação à atividade, avaliando o colega e não a sua produção. Oportunamente, a rubrica tema da formaçãofoi percebida como uma ferramenta que, neste caso, poderia potencializar a atividade de avaliação entre pares, na medida em que permite sistematizar e explicitar critérios e níveis de desempenho nesses critérios.

Este breve relato nos leva a um desafio que percebemos como recorrente na prática de formação de professores. Sobre quase todos os temas que se possa abordar, paira uma pergunta implícita e um tanto nebulosa: “já não fazemos isso?”. Essa pergunta é muitas vezes pertinente em um campo de atuação periodicamente eivado por modismos, mas é preciso lembrar que também é um campo em que prevalece o espontaneísmo e no qual a intencionalidade das ações precisa ser fortalecida, com o auxílio de conhecimento conceitual e técnico. A intencionalidade pedagógica, que se traduz na clareza de objetivos de aprendizagem visados e na implementação de estratégias efetivas para o seu alcance, talvez seja “o pulo do gato”, o que nos fará sair de um “já fazemos” que não produz as transformações desejadas com o alcance desejado.

Retomemos o exemplo da avaliação por pares. Ela pode ser realizada com o objetivo difuso de variar e tornar mais dinâmicos os procedimentos de avaliação tradicionais, mas, efetivamente, o que esperamos que os alunos aprendam com essa proposta? Trata-se de uma estratégia, mas que ajuda a desenvolver o quê? Realizar adequadamente essa avaliação do trabalho de um colega depende de quê? A ação, sem reflexão prévia sobre objetivos e critérios de sucesso, perde tônus nas brechas inevitáveis geradas pelos imprevistos da sala de aula. Já a clareza de objetivos e dos critérios de sucesso ajuda a manejar os imprevistos, aproveitando todas as oportunidades para chegar onde se pretende.

 

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Aline dos Reis Matheus 
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha

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