Parte 1: sobre a necessidade da avaliação e do feedback sobre habilidades metacognitivas

Parte 1: sobre a necessidade

Aprender sistematicamente na escola é como manter uma dieta saudável ou fazer exercícios regularmente: exige certos conhecimentos e habilidades, mas também demanda disciplina em comportamentos produtivos. Para uma dieta saudável, é necessário conhecer os alimentos e a lógica de sua decomposição nutricional, ter habilidades de escolhê-los ou prepará-los adequadamente. Mas, fundamentalmente, é preciso escolher fazê-la rigorosamente em cada dia, sem adiar e com comprometimento.

O desenvolvimento das habilidades metacognitivas dá conta de saber-se aprender, mas ainda não efetivamente de adquirir aprendizado.

Também não basta ter objetivos claros e audaciosos, como tirar nota 10 (ou emagrecer 10 kg), para que eles sejam concretizados.

Avaliação e o feedback sobre habilidades cognitivas

Quais são as habilidades metacognitivas e como avaliá-las são assuntos que já foram abordados num outro texto no nosso blog. Vamos abordar aqui como a avaliação de tais habilidades com feedback aos alunos pode ser uma ferramenta a serviço do professor, não apenas para desenvolvê-las nos seus alunos, mas também para estimulá-los a colocá-las em prática.

Nesse sentido, as questões que se colocam para serem discutidas são:

  • Como o aluno efetivamente estuda?
  • Quando é que o ensinamos a estudar?

A abordagem da 1ª questão requer dois esclarecimentos técnicos de abrangência, pois há mais tarefas instrucionais que o aluno realiza do que aquilo que entendemos quando falamos em “estudar” – normalmente relacionado ao ato de se preparar para uma avaliação – e tratamos aqui de todas elas, em sala de aula, em outros espaços de aprendizagem na escola ou em casa. Além disso, o termo aluno usado no coletivo não é um só. Há alguns alunos, poucos na proporção geral, que possuem habilidades metacognitivas muito bem desenvolvidas e as praticam regularmente, o que pode ser observado em comportamentos como, por exemplo:

  • Fazer anotações de aula com os significados que estão atribuindo aos objetos de conhecimento, para além de copiar o que é escrito ou dito pelo professor.
  • Estabelecer pequenas metas pessoais de estudo, tais como “fazer a leitura de pelo menos 20 páginas por dia durante 15 dias para concluir o livro antes da prova”.
  • Resumir os conceitos a partir do livro ou apostila, das anotações de aula e de outras fontes (internet) em esquemas ou fichamentos.
  • Anotar as próprias dúvidas ao resolver exercícios ou fazer a tarefa de casa (e perguntá-las ao professor).
  • Fazer perguntas durante a aula que busquem significados para os objetos de conhecimento abordados em diferentes contextos.
  • Preparar-se para a aula, estudando previamente (ainda que brevemente) o conteúdo a ser abordado (no livro ou apostila ou na internet).

Há, no entanto, uma extensa maioria dos alunos que estuda por meio da simples leitura (repetidas vezes) das anotações de aula (próprias ou conseguidas no grupo do WhatsApp da sala) e do livro ou apostila, apenas nos momentos que antecedem as avaliações. Isso ocorre na educação básica e superior e não é um privilégio do Brasil.

Este comportamento reflete talvez uma concepção desses alunos de que estudar significa memorizar o que se supõe que ser “cobrado” na prova.

Evidentemente, tais práticas dificilmente conduzem o aluno a um entendimento profundo da matéria, menos ainda à retenção do conhecimento por prazos mais longos.

Nessa mesma maioria se observam com frequência dois comportamentos contraproducentes mais gerais: a procrastinação e o desengajamento; que constituem importantes barreiras para a prática das habilidades metacognitivas.

A constatação de tais comportamentos nos leva à 2ª questão, sobre quando é que ensinamos o aluno a estudar. E a resposta mais generalizadora a essa questão é muito simples: nunca, pois não ensinamos. Há exceções, é claro, mas normalmente, usamos a avaliação como instrumento para cutucar o aluno a estudar para a prova. E quando os resultados não são satisfatórios, dizemos para o aluno e sobre o aluno que ele não estudou.

Será que alguém já passou pela situação de escutar de um aluno (olhando bem para a sinceridade nos olhos dele), que estudou sim, mas não adiantou muita coisa?

Pois é, temos aí uma necessidade, nos posts 2 e 3 deste conjunto trataremos, respectivamente, da avaliação e do feedback sobre habilidades metacognitivas como práticas docentes que podem enfrentar de alguma forma este problema.


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Tadeu da Ponte
CEO da Primeira Escolha

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