Ansiedade frente a avaliações

 

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O tema é velho conhecido dos educadores - quando se aproximam as provas, muitos alunos demonstram ansiedade excessiva, que se traduz nos mais diversos comportamentos:

- foco apenas naquilo considerado passível de ser cobrado nas provas (“cai na prova, professor?”);

- desempenho aquém do potencial percebido pelo aluno e pelos professores (“deu branco”);

- sintomas físicos de estresse no dia da prova ou nos dias que a antecedem.

O quadro é tão comum em nosso contexto de atuação que chega a ser visto com naturalidade, entendido, no máximo, como o reflexo da personalidade de parte dos alunos. Algumas vezes, essa ansiedade é até mesmo interpretada de modo positivo: ela seria indicativo de responsabilidade para com a vida escolar.

Os dados das pesquisas em Educação, entretanto, apontam não apenas que esse não é um quadro “natural”, mas, ainda, que ele não é positivo. O PISA 2015 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) indicou que Em comparação com os estudantes dos outros países participantes do PISA 2015, os do Brasil (com respostas válidas nos questionários contextuais) relataram maior tensão para a realização de testes. Enquanto, em geral, 17,8% dos jovens finlandeses relataram ficar muito tensos quando estudam para uma prova, 56,0% dos brasileiros, em média, concordaram com tal afirmação. (OCDE, 2016)

Obviamente, tal comparação merece uma análise aprofundada, dadas as múltiplas diferenças contextuais entre Brasil e Finlândia. De todo modo, essa mera comparação indica que a ansiedade frente às avaliações não é natural ou necessária, mas é uma construção cultural. Além disso, o mesmo relatório aponta que, na análise dos países, há moderada correlação negativa entre ansiedade frente às avaliações e desempenho em ciências. Ou seja, menores índices de ansiedade tendem a se relacionar com maiores desempenhos em ciência e vice-versa.

Diante desse quadro, nós, educadores, precisamos nos perguntar: quais as causas dessa ansiedade, tão desconfortável quanto possivelmente prejudicial para o desempenho dos estudantes? E como modificar esse quadro?

Possivelmente, parte da causa está na cultura avaliativa predominante nas escolas brasileiras. A avaliação – que, muitas vezes, se dá exclusivamente por meio de provas –, é geralmente vista apenas em sua função de classificação: a partir dela, os estudantes são classificados como bons ou maus alunos, como hábeis ou inábeis em determinadas disciplinas. Quando as avaliações restringem-se a classificar os estudantes, é compreensível que o momento de avaliação gere algum grau de opressão emocional, impactando a autoconfiança dos alunos acerca de sua capacidade intelectual e também sua motivação para com a vida escolar.

Por outro lado, se a avaliação for colocada à serviço da aprendizagem, usada efetivamente como uma ferramenta para que se saiba o que os alunos já sabem e o que ainda precisam aprender, é bastante provável que a avaliação seja encarada pelos alunos com mais otimismo e menos ansiedade.

Na prática, uma cultura avaliativa com foco na aprendizagem – em outros termos, comprometida com uma finalidade formativa e não apenas classificatória – deve exibir algumas características, dentre as quais destacamos a centralidade do feedback ao aluno. A nota (ou conceito), por si, dificilmente revela aos alunos mais do que uma classificação. Tendo como base os objetivos de aprendizagem pretendidos, é necessário esmiuçar erros e acertos, ajudando os alunos a compreenderem aquilo que aprenderam e aquilo que ainda precisam aprender. Há diversas estratégias que podem ser criadas para tal, incluindo tanto abordagens coletivas como individualizadas, que precisam ter como ponto comum a valorização do erro enquanto fonte de informação. Há que se admitir, entretanto, que a criação e/ou a implementação desse tipo de estratégia pode constituir um desafio para os professores, que nem sempre têm o tempo necessário – dada a extensão dos programas – e tampouco referências experienciais que os ampare na busca por uma nova cultura avaliativa.

Assim, claro está que uma mudança nesse quadro exige uma soma de esforços. Até mesmo as avaliações externas podem se comprometer com a busca por uma cultura da avaliação a serviço da aprendizagem. Para isso, é preciso que se prevejam, nessa direção, os possíveis usos dos resultados da avaliação por gestores, professores e alunos, oferecendo a cada um deles relatórios informativos com propósitos e linguagens adequados.

 

 

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Aline dos Reis Matheus 
Diretora Educacional Academia Primeira Escolha

 

 

Referências:
OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Brasil no PISA 2015: análise e reflexões sobre o desempenho dos estudantes brasileiros. São Paulo: Fundação Santillana, 2016. Disponível em <http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pisa/resultados/2015/pisa2015_completo_final_baixa.pdf>

 

 

 

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