Por que as pessoas têm diferentes níveis morais?

De acordo com a teoria do desenvolvimento moral proposta em 1984 pelo psicólogo norte-americano Lawrence Kohlberg, o raciocínio moral desenvolve-se em três níveis, cada um mais adequado para responder a diferentes dilemas morais. Esse assunto já começou a ser tratado em outros artigos da Primeira Escolha.

Aqui, objetivamos apresentar os níveis morais propostos pelo referido autor, a partir de exemplos do dia a dia que remetem a dilemas associados ao desenvolvimento moral.

Cada um desses níveis é qualitativamente diferente do precedente, procurando representar um sistema de organização e julgamento mental, relacionado com a idade de forma global mas, ainda mais especificamente, com o desenvolvimento cognitivo.

  • A essência da moralidade reside mais no sentido de justiça do que, propriamente no respeito pelas normas sociais.
  • A moralidade tem mais a ver com considerações de igualdade, de equidade, de contratos sociais e de reciprocidade nas relações humanas e menos com o cumprimento ou violação de normas sociais ou regras.
  • A justiça é o princípio moral básico.

Por que as pessoas têm níveis morais diferentes?

O uso dessa metodologia para entendimento da moral proposta por Kohlberg objetiva contribuir como um modelo de investigação por meio da apresentação de dilemas. A análise dos argumentos contribui para o entendimento do estádio de desenvolvimento moral em que uma pessoa se encontra. Vejamos alguns exemplos:

O nível pré-convencional ou pré-moral é típico da maioria das crianças até aos 9 anos, alguns adolescentes e adultos. A criança sabe que existem normas sociais, coisas que se podem ou não fazer, mas estas normas permanecem externas. As normas são obedecidas por duas razões: evitar o castigo e satisfazer desejos e interesses concretos e individualistas, imediatos, pela recompensa que pode advir:

  • Não deve roubar porque senão vai para a cadeia.
  • Deve roubar porque senão a mulher zanga-se com ele por não ter dinheiro.

Já no nível convencional, típico da maioria dos adolescentes e adultos, as normas e expectativas sociais já foram interiorizadas. O justo e o injusto não se confundem com o que leva à recompensa ou ao castigo, mas definem-se com as normas estabelecidas na sociedade. A moralidade implica cumprir os deveres e respeitar a lei e a ordem estabelecidas. As necessidades individuais subordinam-se às normas sociais:

  • Não deve roubar porque é proibido, é contra a lei.

No nível pós-convencional, no qual uma minoria de adultos faz parte e, em geral, só depois dos 20-25 anos, o valor moral depende menos da conformidade às normas morais e sociais vigentes e mais da sua orientação em função de princípios éticos universais, como o direito à vida, à liberdade, à justiça. As normas sociais devem ter subjacentes princípios éticos universais e, por vezes, pode haver contradição, impondo-se a necessidade de hierarquizar os princípios e as normas (moral versus legal):

  • Tendo roubado o medicamento o Senhor Carvalho tem a atenuante que estava a defender uma vida humana.

Por fim, os três níveis de moralidade podem ser concretizados no seguinte exemplo:

Por que não se deve roubar?

  • Alguém pode ver e chamar a polícia (pré-convencional)
  • É uma questão de lei. Há leis que protegem as pessoas e as propriedades (convencional)
  • É uma violação dos direitos humanos, neste caso, do direito de propriedade (pós-convencional)

É evidente que há valores universais, como o valor da vida, o respeito ao próximo, a solidariedade etc., aos quais quase todas as pessoas supõem aderir.

Mas nem sempre o comportamento efetivo apresenta-se alinhado aquilo que é esperado da pessoa naquele momento, naquele contexto, situação, etc.

No entanto, compreender as tendências de racionalização frente a dilemas morais ou sociais pode ajudar as empresas, instituições e governos a direcionarem seus esforços para compreender a importância e impacto que atitudes assertivas, éticas, comprometidas podem trazer para a promoção de maior bem-estar, justiça social e menor prejuízo financeiro.


ivan.png

Ivan Rabelo
Especialista em avaliação