Características comportamentais são maleáveis?

Encarar os desafios desse século XXI exige que as pessoas dominem certos conhecimentos essenciais para o sucesso na vida, desde acadêmico, profissional e, sobretudo pessoal, no qual a escola e o trabalho têm papel de forte estimulação e influência, podendo contribuir para o desenvolvimento dessa vasta gama de habilidades e competências para o sucesso na escola, na família, no trabalho, no futuro, na vida.

Um crescente corpo de evidências alude que intervenções, treinamentos, psicoterapia etc., podem transformar as disposições e autopercepções na vida de uma pessoa, ou seja, pesquisas científicas recentes sugerem uma maior maleabilidade das características comportamentais, do que se imagina da noção de traço de personalidade como algo estático, que após se formar na idade adulta, só poderia ser modificada a partir de traumas ou grandes causas.

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Pesquisadores têm realizado diferentes estudos que apontam que características cognitivas e socioemocionais são maleáveis ao longo da vida, mesmo que em determinadas faixas de idades e etapas da vida as habilidades se mostrem mais ou menos maleáveis, potencializando intervenções que poderiam vir a ser realizadas para a promoção destes atributos.

As pesquisas destacam uma formação bastante precoce da inteligência e capacidade de raciocínio acontecendo nas primeiras fases da vida, ao passo que características emocionais e comportamentais se mostram ainda maleáveis depois da adolescência e mesmo na vida adulta.  

Até tempos recentes pensava-se que a personalidade era imutável, ou melhor, pouco maleável ao longo da vida adulta. Porém, recentemente, algumas meta-análises questionam isso e sugerem que a personalidade se desenvolve ao longo da vida, mostrando que os indivíduos se tornaram mais socialmente dominantes (extrovertidos), conscienciosos, agradáveis e mais emocionalmente estáveis durante toda a vida, mesmo após a adolescência e na idade adulta.

Pesquisas sugerem que os fatores comportamentais poderiam e deveriam desempenhar um papel mais importante na política e na prática educacional, assim como no contexto do trabalho, de maneira mais expressiva do que até agora tem sido realizado.

Simplificando, existe uma necessidade de investimento potencialmente mais alto por parte dos empregadores e fazedores de políticas educacionais no desenvolvimento de habilidades comportamentais, para além das habilidades cognitivas.

Na cultura popular brasileira existir o ditado: “pau que nasce torto nunca se endireita, vira lenha” (não há nenhuma esperança, pois ele pode não parecer ter serventia), ou ainda, no mesmo sentido, o que é dito na música: “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, é assim que eu sou”, é possível refletir a suposição de que, depois de constituído, os traços e características de uma pessoa não mudam.

Nesse sentido, este artigo é uma reflexão para que possamos observar o que as pesquisas mais recentes têm apresentado, permitindo, portanto, a partir das inferências empíricas, compreender que é possível desenvolver intencionalmente características comportamentais, que podem promover uma maior adaptação de comportamentos produtivos no trabalho, contribuindo em conjunto também para uma maior satisfação do trabalhador no desempenho de suas atividades.


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Ivan Rabelo
Especialista em avaliação